O enfermeiro Everton Alves Evangelista atua na Unidade de Interação do Hospital Santo Antônio da Patrulha da Santa Casa de Misericórdia. Ele conversou com a reportagem sobre o seu trabalho, já que atua na linha de frente de combate ao vírus. Afirma ele que o quadro atual da pandemia é desesperador.
“Estamos observando um aumento expressivo de casos, lotação das unidades de saúde, e muitos pacientes jovens apresentando sintomas graves do Covid-19, e muitos desses pacientes graves não possuem doenças prévias e isso nos causa uma apreensão enorme, pois estamos em constante vigília com todos os pacientes infectados e não temos mais um critério que preveja a piora destes”, relata.
MEDO E TRISTEZA
Definindo o sentimento que tem a respeito dos doentes, afirma que é principalmente de impotência, acompanhado de medo e de tristeza.
“Estamos correndo contra o tempo, fazendo todo o esforço possível para manejar esses pacientes e evitar uma piora de seu estado de saúde, e por muitas vezes percebemos que não está sendo o suficiente”.
Destaca Everton que o esgotamento físico e mental é enorme. “Nossas equipes estão no limite. É muito triste, tu teres que comunicar um paciente e seus familiares da necessidade de intubação como a última terapêutica, ou chegar no plantão e descobrir que determinado paciente, que no dia anterior estava estável, evoluiu para ventilação mecânica”.
DEVER CUMPRIDO
Todo o trabalhador da área da Saúde passa por momentos de tensão durante todo o seu período de trabalho, porque, ao lado dos médicos, luta pela preservação da vida. “Quando temos a sorte de ver um paciente recebendo alta o sentimento de alívio e dever cumprido é enorme”, afirma Everton para prosseguir: “São pequenas vitórias em meio a todo esse caos, mas nos dão força pra seguir lutando. Por outro lado, a cada óbito retornamos ao sentimento de impotência, porque é muito difícil perder um paciente por falta de leitos de UTI, ver a dor dos familiares, é desesperador”.
AS CRÍTICAS
O enfermeiro disse saber que as críticas são inevitáveis, “porque por mais que façamos um bom trabalho nunca conseguiremos agradar a todos. Infelizmente as pessoas, de um modo geral, tendem a julgar sua dor maior do que a do outro. E infelizmente precisamos elencar prioridades, para que possamos direcionar nossos recursos imediatos a quem mais necessita naquele determinado momento”.
Everton diz que todos também temos noção de que a visão da população sobre o seu trabalho é limitada, “porque a maioria das pessoas não tem a noção da real situação do que estamos vivendo. Temos que lidar com as críticas e seguir trabalhando, pois é o que o cenário atual da saúde nos exige, não temos tempo a perder”.
Everton Evangelista afirma que gostaria que as pessoas entendessem a gravidade da situação. “Parece que muita gente perdeu o medo da doença, mas não é só o Covid que nos preocupa. Com a lotação das UTIs, a assistência a outras doenças e necessidades de saúde também ficam comprometidas. Hoje se alguém infartar, sofrer um AVC ou mesmo um acidente de trânsito grave, as chances de conseguir um leito de alta complexidade é mínima. Por isso as medidas de prevenção devem ser seguidas à risca: uso de máscara, distanciamento social e higiene das mãos salvam vidas”.
CARINHO DOS PACIENTES
Porém, em contrapartida, mesmo com as muitas críticas que são feitas à enfermagem, os trabalhadores da saúde também recebem muito carinho de pacientes que conseguiram se recuperar. “Ver um paciente que foi intubado retornar da UTI, para nós, evoluir bem em seu tratamento e nos agradecer pelo nosso trabalho é muito gratificante. Tivemos pacientes que ficaram meses conosco e conseguiram sair. Recebemos cartas e postagens de alguns destes pacientes e com certeza isso nos fortalece muito e o que mais precisamos nesse momento é de força”, conclui Everton Alves Evangelista, Enfermeiro da Unidade de Internação do HSAP.