Educação presencial ou educação domiciliar?

Por Patricia Lisboa, pessoa com deficiência, bacharel em Direito, presidente do Conselho Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência e presidente da Associação das Pessoas com Deficiência Visual e Amigos de Gravataí – ADVA.

Preciso falar sobre isso, a fim de esvaziar meu coração acerca de tantas perdas de direitos que vimos enfrentando como pessoas com deficiência. A de 19 de maio, no bom e velho português, a Câmara dos Deputados, votaram a maioria pela educação domiciliar. Onde ficam os pilares da educação? Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a conviver; Aprender a ser.

“Anos iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento que repercutem em suas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo”, BNCC do Ensino Fundamental.

Com que outros as crianças irão se relacionar em casa? Estão vendendo um pacote de gato por lebre. A começar pelo termo adotado: homeschooling, que simplificando, quer dizer ensino domiciliar. Nome bonito né? Daí o pai e a mãe que trabalham o dia todo podem achar que chegou a solução dos problemas…
Tá perigoso o filho indo sozinho para escola; a passagem ou a van não cabem mais no bolso; Volta e meia vem uma reclamação da escola. Mas calma aí…

Sabe para quem vai se aplicar o novo formato? Para pais que comprovem ensino superior ou curso técnico. Quantas famílias temos nessa condição? Outra alteração que vem no pacote é que será melhor para estudantes com deficiência. Será que é verdade? Então resolver a falta de acessibilidade, a falta de pessoal preparado, a falta de transporte inclusivo, a falta de empatia com o “fique com o seu filho especial em casa e ensine ele” vai contribuir para uma sociedade mais justa, inclusiva e fraterna? Não, sabe o que querem? Que o colega com deficiência não “atrapalhe”. Que não exija nada. Que deixe o ambiente escolar.

Eu como pessoa com deficiência, estudante do ensino regular em escolas públicas todo meu período escolar, graduada recentemente em Direito, não me conformo com os tempos duros em que vivemos. Não posso me aquietar diante de tantos retrocessos na calada. Nós pessoas com deficiência, nossos familiares, nossas instituições, nossos conselhos, nossas representações, precisamos dar as mãos, nos unir e mostrar que vencemos a pandemia! Ainda estamos aqui! Queremos avanços e não retrocessos.

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