Empresários relatam que a movimentação nas lojas, afetada pela pandemia, está aumentando, e o uso das redes sociais tem colaborado para o incremento das vendas
Priscila Milán
Todos reconhecem a importância das mídias digitais para os negócios. A maioria das empresas aposta em divulgações nas redes sociais para impulsionar as vendas. Recentemente, a Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) destacou dados da Pesquisa Maturidade do Marketing Digital e Vendas no Brasil que ilustram esse cenário. Segundo o estudo, 94% das organizações investem nesse tipo de estratégia de crescimento porque sabem que os consumidores têm o hábito de pesquisar e comprar pela internet. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gravataí (Sindilojas), José Rosa, grande parte dos lojistas no município já se adaptou a essa realidade, todavia há os que precisam compreender a necessidade de mudanças na forma de trabalhar. “Um tempo atrás ninguém podia ficar com um celular na mão enquanto trabalhava na loja. Hoje em dia, cada vendedor tem que estar com o seu aparelho e sabendo manipular muito bem o atendimento presencial e virtual. É uma ferramenta de primeira necessidade para aumentar a clientela”, afirma.
Na opinião do empresário, o movimento no comércio está melhor, em comparação ao começo da pandemia, porém não se percebe a circulação de pessoas como antes dos casos de coronavírus. “Ainda existe um ar de desconfiança, um medo de sair à rua. Algumas lojas continuam vazias. Ao mesmo tempo, quem está preparado para esse novo cenário, pode estar sem clientes dentro da loja, mas com muita gente comprando pelas redes sociais. O número de clientes pode ser muito maior do que antes da pandemia. É possível vender mais, na loja e na palma da mão”, diz, referindo-se ao uso de tecnologia.
O presidente do Sindilojas acredita que, para conquistar melhores resultados, os comerciantes precisam sair da zona de conforto e ficarem atentos ao que acontece no mercado. “Acho que o grande valor do ser humano é a curiosidade. O comerciante tem que acompanhar o que está acontecendo, avaliar porque o negócio não está funcionando. Trabalha-se muito, mas às vezes, errado. As coisas não vão mudar de uma hora para outra. Vamos continuar com inflação alta, temos a guerra. O trabalho está exigindo muita capacidade intelectual, de inovação, de percepção. A clientela está muito exigente, com dificuldade financeira, e está em casa, tem que buscá-la. É preciso se jogar no mundo virtual.”
A mudança no comportamento do administrador de uma loja não deve se restringir ao investimento em marketing digital. José Rosa aponta que a qualificação profissional é fundamental. “O comércio é fantástico de trabalhar porque mexe com pessoas. Tem que ter uma cabeça muito aberta porque o seu estabelecimento recebe diversos tipos de pessoas e se não estiver atento ao comportamento, ao olhar, a postura do cliente dentro da loja, pode-se perder uma grande oportunidade. Hoje, ser um lojista e administrar um quadro de funcionários não é pouca coisa. A pessoa tem que ser um pouco psicólogo, economista, uma série de coisas para manter o seu negócio. Infelizmente alguns ainda estão muito fechados, tem que se abrir, tem que sair do casulo”, comenta. Para o presidente do sindicato, uma empresa bem-sucedida necessita de colaboradores habilidosos, que assim como os proprietários, se preocupem com a imagem do estabelecimento e a forma como os clientes são atendidos.
Impulso para as vendas presenciais
Desde a inauguração, em 2014, a Boutique Gaúcha recorre às divulgações dos produtos em redes sociais. A proprietária, Renata Pereira, conta que esta estratégia de vendas tem sido fundamental para os negócios, principalmente no período de pandemia. “Ao longo de quase oito anos com vendas on-line, temos clientes de todo o país. Até a chegada da pandemia, os números eram bons, no entanto, com ela vieram as incertezas. Loja fechada, atendimento só virtual, somente tele-entrega ou pague e busque. No primeiro mês foi terrível, mas não nos deixamos abater! Logo os clientes começaram a chamar e pedir”, salienta.
Para a empresária, estar presente nas mídias digitais contribuiu para que a loja conquistasse credibilidade e registrasse também crescimento nas vendas presenciais. “Antes, poucos compravam valores mais expressivos. As pessoas passaram a comprar com mais confiança. Ainda é muito maior o percentual de vendas presenciais: em torno de 70% ao mês. Mas, muitas vezes, o cliente faz o primeiro contato on-line, se certifica de que temos o que procura e depois vem até a loja.”
A proprietária da Boutique Gaúcha ressalta que, além de investir no marketing digital, é preciso priorizar o bom atendimento, com atenção em todo o processo até o pós-venda. “Nós levamos em consideração que é importante vender o que o cliente precisa, e não simplesmente fazer uma venda. Recebemos semanalmente feedback dos nossos clientes, agradecendo pelo produto servir certinho. Tiramos medida de cada produto, passamos para a pessoa conferir e nos dar ok, assim evitamos a frustração de não servir e o cliente ter que fazer a troca”, frisa.
Captação de mais clientes
Antes da pandemia de Covid-19, a Padaria e Confeitaria Marco já utilizava as redes sociais como estratégia para captar clientes. Contudo, nos últimos dois anos, a percepção de que os canais digitais são excelentes ferramentas para alavancar as vendas, motivou a empresa a investir mais em anúncios pagos e publicações orgânicas. O gerente, Márcio Vicente de Oliveira, revela que continua estudando como divulgar a empresa e os produtos de forma eficaz, porém os resultados positivos até então comprovam a lucratividade do marketing digital. No estabelecimento, o Instagram tem se mostrado excelente para conquistar clientes, enquanto o Facebook vem ajudando a fechar mais negócios. Com links de direcionamento para o WhatsApp, os clientes têm acesso ao cardápio e podem efetuar os pedidos de forma ágil. Esta e outras facilidades para o consumidor têm garantido o sucesso da padaria. “O marketing digital transformou a nossa empresa. Com as divulgações tivemos um aumento de aproximadamente 40% nas vendas. Em média, somos procurados diariamente por 20 novos clientes, que chegam até nós por causa das postagens”, afirma.
De acordo com Márcio, o estabelecimento não trabalha com as linhas de pães, cucas e biscoitos há nove meses. Suspender essa produção gerou uma economia de 35% e permitiu à empresa focar as vendas nos salgados, que a tornaram uma referência no segmento. Atualmente, o lançamento de combos, o bom atendimento, a agilidade para os pedidos e entrega, bem como o diferencial de preparar os salgados na hora para o cliente são apontados como fatores imprescindíveis para manter o crescimento projetado pela Padaria e Confeitaria Marco. “Agora também queremos investir mais no atendimento presencial, que teve uma queda na pandemia, mas está crescendo novamente. Muitas pessoas veem as publicações nas redes sociais e se interessam em vir conhecer a padaria”, explica.