Situação de emergência, caos, prejuízos e muito trabalho depois do temporal

Chuva e ventania da última segunda-feira (15/8) provocaram estragos em vários pontos de Gravataí e Cachoeirinha

Priscila Milán

O forte temporal da noite da última segunda-feira (15/8) provocou estragos em muitos pontos de Gravataí e Cachoeirinha. De acordo com a MetSul Meteorologia, houve registro de ventos que ultrapassaram 120 km/h na Região Metropolitana de Porto Alegre. Na terça-feira (16/8), o cenário ainda era de destruição em vários bairros. Órgãos das Prefeituras das duas cidades e a população em geral iniciaram cedo os trabalhos para reparar o que foi danificado pela ventania e granizo, agilidade necessária devido a previsão de mau tempo também nesta quarta e quinta-feira (17 e 18/8). Os dois municípios decretaram situação de emergência e tomaram providências para atender os cidadãos das regiões mais afetadas. Contudo, alguns serviços sofreram alterações e ainda não foram normalizados. Até o início da noite desta terça-feira, diversos locais estavam sem abastecimento de energia elétrica e água.

Os prefeitos Luiz Zaffalon, de Gravataí, e Cristian Wasem, de Cachoeirinha, assinaram os decretos de emergência ainda na manhã de terça-feira e estiveram em locais atingidos pelo temporal. Equipes das secretarias municipais efetuaram consertos, limpeza nas ruas e entregaram donativos em algumas comunidades. As aulas foram suspensas nas duas cidades após os estragos. A Prefeitura de Gravataí anunciou, todavia, no final da tarde de terça, que as aulas seriam retomadas nesta quarta-feira (17/8), recomendando aos munícipes que entrassem em contato diretamente com a instituição de ensino para verificar o funcionamento por causa da falta de luz ou água. A estimativa é de que pelo menos 32 escolas de Gravataí tenham sofrido graves avarias.

O prefeito Zaffalon assina decreto de emergência na manhã de terça-feira.

Falta de luz

As rajadas de vento foram tão fortes que uma torre de linha de transmissão de energia caiu em Cachoeirinha. Doze postes caíram na Avenida Frederico Augusto Ritter. A falta de luz, aliás, foi uma queixa recorrente em muitos bairros. De acordo com a RGE, em torno de cinco mil pessoas (entre colaboradores e terceiros) estão mobilizadas nas ações para reparar os danos causados à rede de distribuição de energia elétrica. A empresa explica que a meta é normalizar o fornecimento o mais rápido possível, “no entanto, há a necessidade de reconstrução completa em vários trechos que foram danificados pela queda de árvores e objetos lançados sobre a rede, ocasionando, inclusive, danos em postes de concreto”. A RGE aponta que, até o final da tarde de ontem, 34 mil clientes estavam sem luz, em Gravataí, e 17 mil, em Cachoeirinha.

Sem água

O abastecimento de água também foi prejudicado nas duas cidades. O Grupo 2M de Comunicação entrou em contato com a assessoria de imprensa da Corsan para maiores informações sobre a normalização do serviço, porém não obteve retorno até o fechamento desta edição. No site da companhia, na seção de “situação do abastecimento”, consta que todos os bairros de Gravataí poderiam enfrentar oscilações na pressão da água e que a interrupção seria decorrente da falta de energia. A previsão era que o abastecimento fosse restabelecido ainda na terça-feira.

Em Cachoeirinha, a situação foi semelhante, porém a empresa informou que havia registro de falta de água nos bairros Canarinho, Central Park, Chácara das Rosas, Condomínio Villagio di Venezia, Granja Esperança, Jardim Betânia, Jardim do Bosque, Marechal Rondon, Monte Carlo, Morada do Bosque, Navegantes, Princesa Isabel, Vila Cachoeirinha e Vila Fátima.

Serviços pelas ruas

Somente até o início da tarde de ontem, a Secretaria de Mobilidade Urbana de Gravataí já tinha efetuado 36 manutenções de semáforos. A equipe de sinalização também prestou apoio na remoção de objetos que estavam nas principais vias da cidade. A desobstrução das ruas e entradas das residências foi feita pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, também responsável pelo mutirão de limpeza. A Prefeitura liberou os quatro ecopontos a receberem qualquer tipo de material pelos próximos sete dias.

Atendimento em Saúde e na Casa do Bem

A falta de energia elétrica e água fez com que algumas unidades de saúde de Gravataí tivessem que fechar temporariamente. Pelo menos oitos postos sofreram avarias. A falta de internet também prejudicou o trabalho. A UPA das Moradas utilizou um gerador e a da Cohab C já estava com luz quando esta edição foi finalizada. A Casa do Bem (foto), instituição que atende moradores de rua, ficou totalmente destelhada. Com isso, 40 pessoas foram realocadas no CTG Carreteiros da Saudade.

Cenários de destruição

Dorival de Oliveira

Quem circulou pelas principais avenidas de Gravataí e Cachoeirinha pôde constatar a gravidade dos estragos provocados pelo temporal. Na Dorival Cândido Luz de Oliveira, por exemplo, uma loja de móveis situada na parada 77, além dos danos decorrentes do mau tempo, teve prejuízos com a ação de saqueadores. Na Escola e Faculdade QI, na parada 74, a cerca em frente ao auditório caiu e o maior susto dos funcionários e alunos foi a queda de um outdoor. Ninguém ficou ferido, mas o veículo de um estudante foi danificado pela estrutura. Segundo a bibliotecária Giana Lagranha de Souza, a falta de luz interferiu nas atividades presenciais da instituição, porém as turmas estavam sendo avisadas do ocorrido e assim que o abastecimento de energia elétrica fosse restabelecido, o atendimento voltaria ao normal. Até o fechamento desta reportagem, a escola seguia sem luz.

Bonsucesso

O servidor público Sandro Ferreira Gomes, residente no bairro Bonsucesso, conta que estava prestes a sair de casa quando começou a ventania. “Foi rápida, creio que não durou cinco minutos, mas os estragos causados foram enormes. Passei o dia consertando o telhado junto a um empreiteiro conhecido. O saldo de tudo isso foram seis telhas, cinco cumeeiras e 10 metros de manta asfáltica”, destaca. O morador revela ainda que teve prejuízos na lateral do imóvel e parte da garagem.

Parque Ipiranga

Segundo Sônia Costa, patroa do Rancho da Amizade, o telhado da entidade foi danificado pelas pedras de gelo. “Foram muitos estragos, no CTG, na casa de amigos, na minha casa também. Foi terrível o temporal”, comenta a moradora do Parque Ipiranga. A tradicionalista relata que membros de outros CTGs também contabilizavam os prejuízos nos galpões após a chuvarada.

Auxiliadora

A corretora de imóveis Tânia Maria Furtado, que mora no bairro Auxiliadora, afirma que a região foi fortemente atingida pelos ventos e granizo. “Casas destelhadas, árvores quebradas, falta de luz e água”, salienta. Na residência dela, o susto foi grande. Voaram telhas da casa ao lado e as pedras de gelo causaram pelo menos 22 buracos no telhado. “E as madeireiras próximas tinham filas para comprar telhas, as quais já estavam em falta ou com preços exorbitantes”, reclama.

Avarias em residências

Em alguns bairros, os danos provocados pelo temporal foram solucionados rapidamente. O jornalista Leandro Nazari ressalta que no Passo das Pedras não se percebeu situações de muita gravidade. Na casa dele, as telhas se amontoaram e entrou água pelo telhado, mas o problema foi resolvido ainda na manhã de terça-feira. Nas imediações dos bairros Santa Cruz e Conceição, muitos moradores tiveram que providenciar reparos nos telhados dos imóveis.

Relatos em redes sociais

Muita gente compartilhou nas redes sociais fotos e relatos sobre o cenário deixado pelo temporal na Região Metropolitana. A rede de academias Planeta Fitness, que possui unidade em Cachoeirinha, postou uma nota destacando que o mais importante é que ninguém se machucou gravemente e que estava arrumando tudo para receber os alunos o mais breve possível. Há também muitos registros de estragos em empresas e destelhamentos. Somente no Rincão da Madalena em Gravataí, cerca de 40 casas foram destelhadas.

Doações no Ginásio da Fátima

A Defesa Civil de Cachoeirinha recebe doações de roupas, alimentos, eletrodomésticos, colchões, cobertores, entre outros itens para ajudar pessoas que residem em locais atingidos pelo temporal. Os donativos estão sendo recebidos no Ginásio Municipal da Fátima, na Rua Rondônia, 137. Quem tiver doações, mas não puder levar até o endereço, pode entrar em contato pelo telefone 98034-2664.