Psicóloga do Sesc/RS orienta quanto aos sinais que indicam necessidade de apoio profissional
Medo do contágio, distanciamento das pessoas queridas, crise econômica, luto: a covid-19 trouxe várias questões que estão interferindo na rotina e na saúde mental da população. A exposição a essa tensão diária pode causar distúrbios do sono, elevar o nível de estresse, provocar angústia e aumentar a irritação, tornando a ansiedade um sentimento cada vez mais recorrente. A psicóloga do Sesc Lajeado Brenda Borges Schmitt alerta que, apesar de ser algo natural, a ansiedade pode atingir níveis que exigem atendimento especializado diante do cenário de incerteza desde o início da pandemia.
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde entre abril e maio do ano passado mostrou que a ansiedade foi o transtorno mais citado no período, com 86,5% dos entrevistados relatando sofrer com o problema. Outro levantamento, divulgado pelo Ipsos em junho de 2020, apontou que, de 16 países, o Brasil é o país que mais apresenta ansiedade como resultado da pandemia: quatro em cada 10 brasileiros (41%) têm experimentado algum nível do distúrbio, com os mexicanos em segundo (35%) e os russos em terceiro (32%).
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o problema não é uma novidade para os brasileiros: um estudo divulgado em 2019 aponta o Brasil como o país mais ansioso do mundo, com 18,6 milhões de pessoas (ou 9,3% da população) convivendo com o transtorno. A novidade é que, durante a pandemia, surgiu um novo fator que agravou a situação: a incerteza sobre o futuro. “Tanto nos estudos que eu tenho acompanhando quanto nos atendimentos, o que se percebe é a questão da incerteza, do que vai ser daqui pra frente. A insegurança diante do futuro e as questões de trabalho e família nesse cenário deixam os sentimentos muito mais intensos, e algumas pessoas não estão conseguindo dar conta dessas emoções”, informa a psicóloga do Sesc Lajeado, Brenda Borges Schmitt.
Mas como saber que a ansiedade passou de uma sensação normal para algo que precisa ser tratado? Brenda explica que a intensidade e a frequência dos episódios são pontos a serem observados: “Todo mundo vive momentos de ansiedade, é natural que a gente se sinta ansioso quando estamos lidando com algo novo. Mas esses sentimentos tendem a passar depois que a gente vive a experiência. O que a gente chama de transtorno é uma vivência mais intensa e contínua”, esclarece. Sintomas como sensação de quase morte, palpitação, falta de ar, falta de controle sobre a situação, sudorese, angústia e vontade de sair correndo do local são indicações de que você pode estar vivendo uma crise de ansiedade. Nesse caso, se isso se torna recorrente e apresenta prejuízos significativos na vida da pessoa, a orientação é procurar ajuda psicológica logo, para que o diagnóstico seja dado e o tratamento possa ser realizado o mais cedo possível.
Durante uma crise, algumas técnicas que ajudam a diminuir a sensação de desespero são retomar o controle da respiração (puxe o ar pelo nariz de forma lenta e profunda e solte pela boca devagar), focar no ambiente (prestar atenção no lugar que está ou em algum objeto e descrevê-lo mentalmente), evitar os pensamentos negativos e buscar distrações, procurar a ajuda de um amigo, conversar, ouvir música e evitar o consumo de cafeína. Já no cotidiano, para evitar que se chegue a um momento de grande estresse, as principais dicas são investir no autocuidado, respeitar os próprios limites, fazer atividade física, ter uma rotina organizada e retomar algum hobby que ficou esquecido. “Cada um lida de uma forma diferente com as situações. Então é importante não se comparar, não tentar fazer além do que você dá conta e reconhecer que há coisas que são impossíveis de controlar. Também é fundamental se acolher, ter empatia consigo mesmo e se priorizar, além do cuidado com o corpo e com as questões emocionais. Precisamos lembrar que, para cuidar dos outros, antes a gente precisa estar bem”, aconselha a psicóloga.
Estar sempre de olho no noticiário também pode ser prejudicial, por isso é fundamental buscar um equilíbrio entre ficar informado e fazer uma pausa quando a ansiedade está em alta. “Com as redes sociais, tudo chega muito rápido e por todos os lados, mesmo que a gente não queira. Quando isso está causando aflição ou angústia, a saída é filtrar as informações, escolher fontes confiáveis e dosar a quantidade de notícias que consumimos. Por exemplo, se assistir ao jornal da manhã me faz ficar ansiosa o dia inteiro, o melhor é tentar buscar as informações apenas no final da tarde. Até nas conversas diárias, temos que estar à vontade para dizer que não queremos falar sobre determinado assunto se aquilo está nos afetando muito”, completa Brenda.
Como uma crise de ansiedade e a covid-19 têm alguns sintomas em comum, é preciso prestar atenção em alguns fatores para não confundí-las. A crise de ansiedade é despertada por um fator desencadeante, chamado de gatilho – como ler uma notícia e pensar na possibilidade de contágio ou receber a informação de que algum familiar se contaminou. A falta de ar causada por ela acontece em episódios, após situações de estresse, não é constante nem piora com pequenos esforços. Já no caso da covid-19, ela geralmente aparece após um quadro de febre e tosse persistente e é acompanhada de uma exaustão ao fazer alguma atividade física, como subir escadas. “O autoconhecimento é muito importante, a pessoa saber como o corpo se comporta em momentos de tensão. Isso ajuda a identificar que o problema é psicológico, o que faz a diferença na hora de buscar ajuda e obter um diagnóstico mais cedo”, finaliza.