Texto: Gaúcha/Zero Hora
Foto: Júlio Cordeiro/Agência RBS
Morreu nesta quarta-feira (17) o homem que eternizou um dos bordões mais simples e bonitos das transmissões de rádio no Brasil: “Alô, amigos”. Simples e bonitas como eram suas locuções. Armindo Antônio Ranzolin morreu aos 84 anos após complicações do Alzheimer. Mas a voz que eternizou as conquistas do Tri brasileiro do Inter, de duas Libertadores e do Mundial do Grêmio e do Tetra da Seleção ficará para sempre viva na memória do Rio Grande do Sul.
“Vou sentir muita falta deste abraço. Vai em paz, meu pai. Amor infinito e eterno!”, escreveu em suas redes sociais a jornalista Cristina Ranzolin, apresentadora do Jornal do Almoço.
A voz poderosa que traduziu as emoções dos campos de futebol e foi protagonista de coberturas inesquecíveis de Grêmio e Inter se calou. Ranzolin construiu uma carreira de quase meio século junto ao microfone, que foi seu companheiro desde os 17 anos. Esteve em seis Copas do Mundo, entrevistou presidentes, governadores, ministros, artistas, embaixadores, gente comum. Cobriu eleições, tragédias, festas, golpes. Esteve onde a notícia o chamava.
Ranzolin nutria o sonho de ser narrador ainda na infância em Lages (SC). A família era de Flores da Cunha, mas ele nasceu em Caxias do Sul no dia 8 de dezembro de 1937. Aos 20 anos, mudou-se para Porto Alegre para estudar. Formou-se em Direito na UFRGS, em 1964, mas nunca abandonou a ideia de ser locutor.
Cinco anos antes, fez testes na Rádio Guaíba. Levava um gravador para Olímpico e Eucaliptos e narrava jogos que só ele e o diretor da rádio, Osmar Meletti, ouviam. Numa tarde, foi chamado às pressas para ser repórter de campo e não foi bem. Atrapalhou-se demais, e Mendes Ribeiro, outro diretor da Guaíba, o chamou para dizer que ele ainda estava “muito verde”.
A oportunidade, então, veio na Rádio Difusora. Como narrador, passou a ganhar destaque e chegou a subdiretor da rádio. Ao colocar no ar uma entrevista com o trabalhista Sereno Chaise, em 1964, desagradou os militares, sofreu pressão e, sem apoio da rádio, foi embora.
Naquele ano, foi para a Farroupilha, onde seguiria como narrador, e também seria apresentador e diretor da TV Piratini. Ficou até 1969, quando assumiu como segundo locutor da Guaíba.
Após a morte de Pedro Carneiro Pereira, narrador número 1 da Guaíba, em 1973, Ranzolin passa a ser o principal locutor do Estado. Onze anos depois, chegou à casa que o acolheu por 22 anos. Em 1984, a Gaúcha anunciou em página inteira de Zero Hora a contratação do “narrador dos gaúchos”. Além das transmissões das partidas, fazia comentários ao meio-dia, em que consagrou o bordão “Alô, amigos”, coordenava as jornadas esportivas e dirigia a rádio.
A despedida das narrações de jogos veio no fim de 1995, na final do Mundial de Clubes entre Grêmio e Ajax. Três anos antes, ele já havia assumido a apresentação do programa Gaúcha Atualidade, justamente no lugar do amigo Mendes Ribeiro, que o considerou “verde” em 1959.
Em 2006, após uma viagem de férias com a mulher, Yara, por Austrália, Nova Zelândia e Taiti, reuniu a família e comunicou a decisão de se aposentar. No dia 6 de dezembro, foi aplaudido no ar pelos colegas e deixou o companheiro microfone para descansar ao lado dos filhos e netos. Tempos depois, veio o diagnóstico de Alzheimer.
Ranzolin deixa a mulher, Yara, os filhos Cristina e Ricardo, os netos Henrique, Manoela e Antônia.