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Por MARCELO RECH, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Os sinais são esparsos mas a tendência está aí.
Aos poucos, vai se consubstanciando uma fadiga digital que, se mantidas as atuais conjunções, pode devolver a humanidades a uma convivência menos tumultuada com o mundo em bits e bytes.

Algumas pistas do fastio: o Facebook envelheceu mal, o Snapchat murchou e o Instagram e suas fantasias de vidas sempre douradas se vê imprensado por gerar ondas de depressão, sobretudo entre adolescentes, enquanto as bigtechs vão sendo garroteadas na Europa e nos EUA por pisarem nos freios do uso de dados privados.

O fato mais instigante foi a paulada sofrida pelo Netflix na semana passada, quando se relevou que a mãe de todos os serviços de entretenimento online perdeu 200 mil assinantes. As ações da Netflix chegaram a cair 35% porque se constatou que o crescimento do consumo online, somado a exorbitâncias gastas em produções exclusivas, não só têm limites como podem sofrer reversões.

Três fatores empurraram a tendência da fadiga. O Primeiro é o tempo. Nenhuma tecnologia foi capaz de criar mais horas no dia e mais dias no ano para se dar conta de todas as alternativas que se acotovelam à nossa frente. O Segundo é o excesso. Paradoxalmente, quanto mais conteúdo, menos o cérebro os registra. Se a atenção não é capturada nos primeiros dois segundos de um vídeo, o usuário já salva para outro, em ciclo infinito de superficialidade no qual reina o TikTok – pelo menos até a próxima onda de saturação.

O terceiro fator, é a grande novidade, é que após dois anos de reclusões pela pandemia, boa parte da humanidade emerge do claustro digital com renovado entusiasmo para uma reconexão com a natureza, para a vivência de experiências físicas e para relações em carne e osso.

Vá lá que Elon Musk tenha torrado 44 bilhões de dólares na compra do Twitter. Não fará muita diferença para ele, tanto que ignorou os sinais de advertência. Antes uma darling de veículos de comunicação e especialistas em assuntos complexos, o Twitter é hoje tingido por ogros que se deliciam em escarnecer do conhecimento e espalhar grosserias. O The New York Times passou a desestimular a presença de seus jornalistas no Twitter e muita gente boa está fazendo detox dele e de outras redes – ou ao menos, passando a usá-las com mais moderação. Ministério da Saúde Mental agradece.

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