A morte de Maraline Pardim Barbieri no começo da manhã de sexta-feira passada (06) na casa do ex-marido na Cidade Alta, gerou grande comoção popular, não apenas em Santo Antônio da Patrulha, mas em todos os Estados onde ela era conhecida por seu vínculo com o esporte, já que era campeã mundial de luta de queda de braço.
“Cada vez mais me convenço de que ele premeditou tudo”, afirma a irmã Maria Izabel Pardim Gottardo, falando para a FOLHA PATRULHENSE em entrevista diretamente de Indaiatuba, onde Mara residia e desenvolvia suas atividades profissionais como massoterapeuta.
“Ela era uma pessoa cheia de vida e levava alegria onde chegava e como mãe, tinha uma dedicação impressionante sendo algo incrível”, define a irmã sobre Mara. “De certo ela já imaginava que seria uma passagem breve com seu filho e por isso foi algo grandioso. E como amiga, como mãe e como filha ela era excepcional”.
COMO SE CONHECERAM
Ambos se conheceram em 2010, depois que o marido viu na época, matéria sobre ela na TV e procurou saber o telefone pretextando querer ajudá-la. Começaram a trocar mensagens e em seguida houve o namoro que terminou em casamento. Foram 17 anos, conforme afirma Izabel. Mas foi uma relação, conforme relata, conturbada, inclusive devido ao ciúme que ele tinha de sua irmã.
SEPARAÇÃO
Até que em julho de 2020 ela resolveu colocar um ponto final. “Minha irmã praticamente fugiu para cá com o filho e ele nunca aceitou isso”, afirma. Mara então solicitou Medida Protetiva contra o ex-marido.
Como a medida o impedia de se aproximar da ex-esposa, ele alugou um kitnet naquela cidade, perto da casa onde Mara residia e era visto com frequência em um ponto de ônibus, perto da casa dela, sempre utilizando um boné para esconder o rosto.
VINGANÇA
Izabel disse ter certeza de que ele agiu por vingança, porque ele, num determinado dia de dezembro, viajou para Indaiatuba e entrou em uma igreja onde ela estava com o filho pretextando entregar um presente à criança. Vendo que ele descumpriu a Medida Protetiva, Mara acionou um aplicativo da Lei Maria da Penha de proteção às mulheres em seu município e em seguida a Guarda Municipal foi ao local e o prendeu, tendo permanecido alguns dias detido, conforme afirmou a entrevistada.
INSISTÊNCIA
Em julho de 2021 ele entrou em contato com ela numa atitude conciliadora, afirmando que queria que ambos fossem amigos, pois ele queria ajudar no crescimento de seu filho, “coisa que ele nunca fez enquanto esteve casado com minha irmã”, disse a entrevistada.
A forma que encontrou para convencer Mara a acompanhá-lo com o filho ao Sul, foi próximo ao final do ano, de que a avó materna sentia muita saudade e queria vê-lo. Mara, vendo o interesse da criança, concordou e os três vieram na quarta-feira no carro de Luiz Antônio para o Rio Grande do Sul, mas ela ficou hospedada em um hotel depois da avó ter visto a criança, pois precisava retornar no dia seguinte, já que teria compromisso em São Paulo.
Mas ele alegou problemas no carro para levá-la de volta e ela terminou pernoitando na casa do indiciado com o filho.
A MORTE
Na manhã de sexta-feira ela começou a recolher alguns pertences que havia deixado quando se separou dele, começando então uma discussão, pois o marido queria convencê-la a ficar, mas ela foi irredutível. E ao tentar deixar a casa na Cidade Alta com o filho, foi alvejada pelas costas com um disparo de arma de fogo que a atingiu na região lombar. Mortalmente ferida ela caiu, mas não perdeu a consciência.
Em seguida a Brigada Militar foi acionada, juntamente com o Samu que a levou ao hospital onde não resistiu ao ferimento, falecendo enquanto estava sendo atendida.
A PRISÃO
Conforme a delegada Amanda Andrade do Reforço de Verão, a Brigada teve que forçar a entrada, prendendo o suspeito no pátio da residência. Ainda segundo Amanda, ele tentou apagar os vestígios do ato praticado e alegrou que ela havia caído e se machucado.
O suspeito foi preso em flagrante e as quatro armas foram apreendidas, uma das quais, com numeração raspada, configurando porte ilegal.
A delegada determinou sua remoção para o Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional em Porto Alegre. No mesmo dia a delegada de Polícia Civil representou pela prisão preventiva do indiciado por homicídio qualificado tendo como base feminicídio, e que foi deferido pelo Juiz da Comarca de Santo Antônio da Patrulha, tendo sido recolhido ao sistema prisional.
REPERCUSSÃO
Foi grande a repercussão no município, tendo sido, inclusive, veiculado pela imprensa do Estado, país e exterior, pois a vítima era campeã internacional de luta de queda de braço.
Mara já havia sido campeã 28 vezes no Brasil e em 25 competições paulistas, além de conquistar título internacional.
“Ele destruiu parte de minha vida, tirou a vida de minha irmã e destruiu a vida dessa criança”, afirma com tristeza Izabel, porém garante: “Mas esta criança será ainda um grande homem como era o desejo de sua mãe”.
O sepultamento aconteceu no domingo em Indaiatuba com um grande acompanhamento como disse Izabel.
E o que ela deseja é que a Justiça seja feita. “Que ele fique muito tempo na prisão para pagar pelo que fez”. A família deseja que ele seja submetido a julgamento pelo Tribunal de Justiça para evitar que outras mulheres tenham o mesmo triste fim que sua irmã infelizmente teve.
SOLIDARIEDADE
Uma vakinha virtual foi feita pela família da vítima, buscando ajuda para custear as despesas de velório, túmulo e sepultamento. O valor pretendido de R$ 40 mil reais, terminou sendo superado.
Maria Izabel afirma que o que sobrar será empregado para conseguir um plano de saúde para seu sobrinho.
Ela agradece emocionada todo o apoio recebido para esta solicitação da família. “Isso não tem preço. Foi uma comoção muito grande das pessoas que se prontificaram a colaborar. Vejo que foi amor, carinho, solidariedade e humanismo. Que Deus abençoe a vida de cada pessoa que nos ajudou e que contribuiu!”
Sobre a manifestação da família Barbieri, ela afirma que todos foram muito solícitos assumindo as despesas aqui até o translado para São Paulo e Izabel se mostra agradecida pelo apoio recebido.
FAMÍLIA BARBIERI
A família Barbieri, por sua vez, assumiu todas as despesas, desde o momento em que Maraline foi atendida após ter sido ferida, depois com os gastos funerários e o translado via aérea para a terra natal onde Maraline Pardim foi sepultada. Uma nota de esclarecimento neste sentido, foi publicada pela família Barbieri nas redes sociais:
“Viemos esclarecer que a Vakinha Virtual idealizada pela família da Maraline Pardim Barbieri é verídica e tem a finalidade de cobrir despesas que a família possa ter em São Paulo.
As despesas com toda a parte burocrática e funerária, bem como o transporte terrestre e aéreo do corpo até SP foram pagas pela família de Santo Antônio da Patrulha.”
PREFEITO
O prefeito Rodrigo Massulo publicou uma Nota de Pesar em nome do Poder Executivo no mesmo dia da morte de Mara, de quem ele era amigo e a quem sempre apoiou em sua atividade profissional em Santo Antônio da Patrulha:
“A Prefeitura Municipal vem a público manifestar sua tristeza pela trágica morte da atleta Mara Pardim, que construiu uma bela trajetória no esporte da Luta de Braço. Mara representou Santo Antônio da Patrulha em importantes competições nacionais e internacionais, foi premiada e trouxe muito orgulho para nossa cidade. Expressamos nossa solidariedade com a família e amigos de Mara, neste momento tão difícil e injusto.
Mara foi vítima de feminicídio. Este crime é uma das violências mais frequentes sofridas por mulheres no Brasil e no mundo. A Administração Municipal repudia veementemente o ocorrido e reforça seu apoio à causa dos direitos das mulheres, bem como a importância da denúncia, que pode ser feita através dos nossos meios de prevenção.
A Ouvidoria da Mulher está disponível para auxiliar a todas as cidadãs que estejam sofrendo qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica. Você pode entrar em contato com a Ouvidoria da Mulher através do WhatsApp (51) 99865-8227”.
DEFESA
O espaço está à disposição da possível defesa do indiciado para sua manifestação.