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Psicóloga fala sobre trabalho junto aos alojados em Portão I

O fator psicológico pesa muito sobre os que estão fora de casa em virtude das inundações que ainda causam sofrimento em milhares de gaúchos.
A psicóloga Bruna Flem, que com mais três colegas de profissão prestam essa assistência aos alojados no salão comunitário de Portão I, na sequência de reportagens sobre o apoio proporcionado às famílias salienta que o trabalho do psicológico nas situações de catástrofes é extremamente melindroso, pois requer identificar e diferenciar a apresentação de resposta ao trauma para atuar de forma assertiva em um cenário em que elas se confundem, inclusive, encaminhando para assistência psiquiátrica os casos mais agudos”.
Destaca a psicóloga que é preciso identificar se os sintomas possuem real potencial de TEPT, que é algo mais duradouro, ou se são sintomas pontuais num curso natural de enfrentamento. “Por isso, não é recomendada a atuação de estudantes de psicologia em situações de catástrofes”.

CRIANÇAS

Com relação ao atendimento, Bruna enfatiza a importância do atendimento infantil. “Neste caso, o acolhimento das crianças é extremamente fundamental e também é realizado pois ela está vivenciando todo o trauma, tanto quanto o adulto, porém, a elas não é fornecido informações da situação atualizada do andamento das coisas, como é para os adultos. Independentemente da idade, a criança percebe, sente, vê e ouve tudo ao seu redor, assim, tudo aquilo que não elucidamos para ela, o psiquismo da criança trata de interpretar da forma como consegue, de acordo com seus recursos psíquicos, sempre envolvendo o conteúdo na fantasia infantil”.
E frisa: “Portanto, é fundamental que se converse com a criança a respeito do ocorrido, explicando a situação de forma que ela possa compreender a realidade, bem como de manter a criança atualizada sobre as providências que estão sendo tomadas pouco a pouco para resolução e reorganização dos impactos, perdas, e da vida como um todo, sempre numa linguagem que ela possa entender, e sempre transmitindo para ela que não será deixada para trás, que os cuidadores estão atentos e que ela está segura”.

PROTEÇÃO À CRIANÇA

No entanto Bruna Flem destaca que a tendência do adulto é de não dialogar a respeito dos fatos com a criança no intuito de poupá-la do sofrimento. “Neste sentido, o trabalho do psicólogo se faz fundamental para trazer a conhecimento dos pais ou responsáveis a importância do diálogo e da transparência neste momento e, também, para orientar os pais e responsáveis na forma de conduzir isso, além, é claro, de realizar o acolhimento direto da criança, que deve ser realizado por profissional preparado para a abordagem infantil.
Essas medidas, ao contrário do que se pensa, é justamente o que vai auxiliar a criança a elaborar a vivência traumática e minimizar a chance de introjeção do trauma com desenvolvimento de defesas psíquicas que funcionarão para ela agora, mas que se tornarão disfuncionais na adolescência e adultez, resultando em diversos adoecimentos psicológicos”.

CARINHO

A psicóloga que presta apoio com mais três colegas aos desalojados concorda em que este momento de solidariedade, contribui para que as pessoas sintam que existe carinho, amor e ajuda para superar o sofrimento: “Neste momento o que estamos vivenciando é muito mais do que uma catástrofe natural, é uma tragédia psicossocial monumental. As perdas sofridas pelas vítimas atingidas causam um impacto imensurável, que inicia causando danos materiais e, automaticamente, reflete em danos emocionais e psicológicos”.
Afirma nossa entrevistada que em um evento como este, em uma região tão populosa como é o nosso estado, e em especial a região metropolitana, onde o aglomerado de pessoas é bastante expressivo, somado às condições climáticas que permanecem desfavoráveis, o caos que se instala é um fator que dificulta a reorganização psíquica das pessoas atingidas, pois estas pessoas ficam impregnadas por uma sensação que eu chamo de “estar no abismo do desamparo”.
SISTEMA EMOCIONAL

“Sistemas nervosos assustados precisam se recarregar e se corregular com pessoas que estão mais seguras e com mais carga. Então, não somente as doações que suprem as necessidades básicas de sobrevivências são fundamentais, mas toda a assistência que está sendo ofertada, não somente profissional, mas da sociedade em geral em atender, escutar, acolher, desempenha um papel importantíssimo, neste momento, para que as pessoas consigam reorganizar-se psiquicamente e sintam-se amparadas e encorajadas e encontrar formas de reconstruir e recomeçar suas vidas”, destaca Bruna Flem.
Na terceira reportagem da série a ser divulgada na edição da semana que vem da FOLHA PATRULHENSE ela estará falando sobre os objetivos alcançados junto aos abrigados para lhes devolver a paz, a segurança e a tranquilidade para aqueles que estão sofrendo, em virtude de perdas de vidas humanas e de tudo o que possuíam e que foi levado pelas águas.

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