Psicóloga fala sobre formação do grupo de voluntários em Portão

Na última matéria da série sobre o trabalho que as psicólogas desenvolvem voluntariamente em Portão I, no salão comunitário que foi cedido para abrigar desalojados das enchentes em Porto Alegre e Canoas, Bruna Flem conta nesta edição como foi montada a estrutura naquela localidade e sobre o trabalho que continua sendo realizado junto aos albergados que ali encontraram um segundo lar temporário.
“O abrigo de Portão I foi idealizado e organizado pelo Grupo de Oração Sagrado Coração de Jesus da comunidade de Portão I que, a partir do desejo de ajudar, reuniu voluntários e executou a ideia. A estrutura foi montada no Salão Paroquial de Portão I, que foi disponibilizado pelo tempo que se fizer necessário por seu presidente, Sr. Reni da Silva Gomes, para abrigar até 30 pessoas”, relata a psicóloga.
Os voluntários providenciaram transporte para trazer os abrigos da região metropolitana e contou com 13 pessoas alojadas desde o domingo (05).
O grupo de voluntários está atuando de forma organizada para que conte com pessoas disponíveis para a realização das refeições, mediação de donativos, manutenção da infraestrutura, deslocamentos e assistência médica – com agradecimento especial à Dra. Cíntia Soares e ao Dr. Sérgio Castro. Conta com profissionais de saúde, empresários locais, e a comunidade da localidade de Portão I.

OBJETIVOS
Na verdade, o principal objetivo da Psicologia nesta situação, em geral – explica Bruna – é o de auxiliar as vítimas a se reorganizarem psiquicamente, para que consigam acessar e utilizar de forma favorável seus recursos psíquicos funcionais e assim possam começar a tecer possibilidades viáveis de como recomeçar, tal qual como encontrar dentro de si condições de elaborar um plano de ação para colocar em prática visando a reestruturação de suas vidas.
“Isso contempla, auxiliar estas pessoas a construírem uma rede de apoio, que é o que vai auxiliá-las até que estejam em condições de dar continuidade nas próprias vidas com maior autonomia. Esta rede de apoio pode abranger desde familiares e amigos, até entidades e aparelhos públicos, ou seja, toda pessoa ou serviço que possa ser útil e seja possível recorrer enquanto a necessidade se fizer presente.
Mas no que tange à paz, à segurança e a tranquilidade, acredito que não só o acolhimento psicológico, mas toda a força tarefa da sociedade nesse momento está sendo de grande contribuição para as vítimas”.

INDETERMINADO
“Não há previsão para encerrar meu apoio e trabalho voluntário”, afirma a psicóloga ao ser indagado sobre o tempo de permanência naquele abrigo, mas acrescenta: “Claro que, como meu bairro de residência não foi atingido, e resido em Porto Alegre, já estou retomando minhas atividades profissionais gradualmente, então à medida que minha rotina de trabalho for voltando à normalidade, meu tempo disponível para estar presente aqui no município irá reduzindo”.
De qualquer forma, durante esses dias que passaram, continuou administrando suas equipes dos residenciais em Alvorada de forma remota, indo lá para organizar algumas demandas pessoalmente e retornando para cá. “O que irá definir meu retorno para casa será a normalização dos serviços de abastecimento de água, mas, de qualquer forma, continuarei vindo ao município para dar assistência ao abrigo de Portão I pelo tempo que se fizer necessário”.

ASPECTOS TÉCNICOS
Mas o trabalho é bem mais amplo: “Numa estrutura como essa que é pensada para abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade, também se faz necessária a atenção a uma série de aspectos que podemos chamar de “técnicos”, como, por exemplo: identificar a necessidade de atendimento médico, acompanhar a conduta médica no caso, garantir que o medicamento ou procedimento seja realizado ou chegue até o acolhido, auxiliar no acesso aos serviços de saúde do município, auxiliar no encaminhamento da confecção dos novos documentos para os que perderam os seus, entre outras coisas”.
Acrescenta que todo este acompanhamento deve ser devidamente registrado em uma ficha individual de cada acolhido por cada profissional ou voluntário que o atende ou acompanha em suas necessidades, para que cada profissional ou voluntário que chegue depois possa saber o que já foi feito e se nortear para a melhor forma de conduzir a continuidade. “Então, estrutura-se um documento que chamamos de prontuário, onde fica registrado todo o histórico das demandas atendidas, e como, durante o todo período de acolhimento da vítima. Este documento, ela leva com ela quando retornar para sua origem para que possa seguir dando continuidade nas providências de retomada da vida normal, bem como tenha as informações de saúde registradas consigo, pois pode vir a precisar futuramente”.
E conclui a psicóloga Dra. Bruna Flem: “Assim, o trabalho do psicólogo no abrigo, tem como função fundamental, não somente os atendimentos psicológicos, mas também esse gerenciamento técnico psicossocial. O grupo de psicólogas voluntárias de Portão I, está composto, além de mim, pelas colegas Janaína Ferreira, Juliete Andrade e Natália Madeira. Estamos comparecendo de forma revezada ao abrigo conforme a disponibilidade de cada uma, acompanhando a evolução do estado emocional dos abrigados e contribuindo no gerenciamento das demais demandas técnicas e burocráticas”.

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Publicidade