Um padre que está há pouco tempo em Santo Antônio, onde na paróquia da Cidade Alta temporariamente, enquanto o Pe. Luciano Motti exerce interinamente o seu Ministério na paróquia de Terra de Areia, até que o bispo dom Jaime Kohl nomeie outro padre para aquele município, viveu uma experiência a qual se mostra muito grato.
Foi em Quebo (Guiné-Bissau), país onde 70 por cento da população é muçulmana.
O Padre Sadi Cordeiro relata sua experiência vivida desde 2021 naquele país, nesta entrevista exclusiva para a FOLHA PATRULHENSE:
“A experiência missionária na Guiné-Bissau foi ímpar, quando tive a graça de viver a realidade de uma igreja pobre e viva. Ocuparia várias páginas para contar fatos da cultura daquele extraordinário povo além do trabalho de coordenação da missão São Paulo VI, na cidade de Quebo”, relata Padre Sadi, para prosseguir: “Essa missão é mantida pelo regional 2 da CNBB, igreja do Paraná, tendo três eixos básicos: evangelização, que é o serviço de catequese e celebrações de missas e sacramentos nas comunidades; saúde, que é a colaboração dos missionários( as) da área da saúde no pequeno hospital local; educação, sendo que a missão mantém uma escola de aproximadamente 200 alunos nas séries iniciais. Além desses trabalhos, dediquei parte do tempo na construção de lavouras comunitárias para combater a fome tão presente naquela população. A missão era constituída por um padre, 2 freiras e alguns leigos e leigas.”
CONVÍVIO COM MUÇULMANOS
Um episódio que o impressionou muito de forma positiva foi a proximidade da comunidade muçulmana conforme ele conta: “Um aspecto marcante da experiência missionária em Quebo na Guiné-Bissau, foi o fraterno convívio com os irmãos muçulmanos. Lá quebrei qualquer preconceito sobre essa cultura e religião. Pessoas acolhedoras, alegres e fraternas. Na região de Tombali, onde fica a missão São Paulo VI 75% da população são muçulmanos. Um exemplo de comunhão é a participação de professores, médicos e enfermeiros muçulmanos junto aos missionários cristãos católicos nesses trabalhos. As lavouras eram 80% de mulheres muçulmanas, lembrando que na cultura fula e balanta quem lida na agricultura são as mulheres. Participei algumas vezes dos encontros religiosos deles, onde sempre foi bem acolhido. Infelizmente, há discursos sobre os nossos irmãos africanos que não condizem com a realidade. A Guiné-Bissau, embora um país pobre, sem infraestrutura, como estradas, faculdades, luz elétrica, hospitais, na maioria das cidades é um país onde não se vê violência. Um lugar que tem terras férteis e uma bonita flora e fauna. Contudo, pesa a consciência de que a Europa, EUA e China têm os países africanos como fonte de matéria prima e em pleno século XX continuam sugando até o sangue daqueles povos”, lamenta o Pe. Sadi.
EM RORAIMA
Aqui no Brasil ele atuou em outros Estados como em 2005 em Roraima, quando nos trabalhos pastorais junto com duas irmãs vicentinas, assistiu também algumas aldeias na fronteira com a Guiana Inglesa. “Não cheguei a morar com os povos indígenas, mas muitas vezes chegamos a ficar entre eles até um mês, quando então tivemos a oportunidade de aprender muito de sua cultura, principalmente o cuidado com a natureza, a subsistência que essa oferecia. Também foi marcante a relação fraterna que viviam entre si e o grande respeito que tinham com as crianças e idosos”, explica. Há vários povos originários na Amazônia, e cada um com língua, aspectos físicos e comportamentos culturais específicos. “Por isso é delicado escrever sobre esses nossos irmãos, porque corremos o risco de descrevê-los segundo o nosso breve olhar e convivência. Aprendi com eles a respeitar e amar mais profundamente a natureza, descobrindo sua beleza e riquezas que nos asseguram a vida.”
RETORNO
Em 2006 após alguns meses em Macapá, AM, retornou à diocese de Rio Grande, porém em 2007 novamente foi em missão para a Amazônia, na arquidiocese de Manaus, onde ficou 11 anos. “Nesse período trabalhei com ribeirinhos, missões populares, nas periferias de Manaus e nos últimos 6 anos como vigário episcopal para os hospitais, ou seja, como padre para assistir os doentes nos hospitais de Manaus”.
RIO GRANDE DO SUL
Em 2018 a convite do bispo da diocese de Rio Grande, foi ajudar na fundação de uma paróquia de fronteira no chuí e em 2019 foi para Curitiba estudar e novamente trabalhar como capelão hospitalar.
As fotos são de seu arquivo pessoal.