Entrevista com William Rutzen, médico convidado de evento da Ulbra Gravataí.
O corpo humano é uma máquina com a configuração original da época do homem paleolítico. Com essa premissa, o médico William Rutzen apresentará “Estilo de Vida: o manual de usuário da espécie humana”, um dos temas da Aula Inaugural dos cursos de Educação Física e Enfermagem. O evento será no dia 27 de março, às 19h, no auditório do campus e as inscrições gratuitas podem ser feitas pelo link bit.ly/3lozt3k
Médico formado pela Universidade de Santa Cruz do Sul, Rutzen começou a pesquisar sobre dietas e hábitos alimentares em 2017 devido a artrite psoriásica, uma doença que lhe atingiu as articulações. A melhora significativa de sua saúde em virtude da mudança no estilo de vida fez com que estudasse maneiras de tornar corpo e mente mais fortes e resistentes à doença. “A resposta que encontrei modificou minha visão da medicina: entendi que a nossa saúde é definida pelo nosso comportamento no dia a dia”, frisa o médico, que tem residência em Clínica Médica e em Medicina Intensiva.
Referência no assunto, com 104 mil seguidores no seu perfil do Instagram, o médico concedeu entrevista à Ulbra Gravataí para falar sobre reconstrução da saúde e reversão dos desequilíbrios que culminam em doenças, como excesso de peso, elevação da glicose, alterações do colesterol e perda de condicionamento físico.
Quais são as diferenças no estilo de vida das pessoas que viviam no período da industrialização e o atual, com o advento da tecnologia?
São, principalmente, três pontos: na alimentação, com o advento da agricultura, houve profunda mudança de composição. Em segundo lugar, no grau de atividade física, uma vez que o abandono da vida nômade e selvagem reduziu substancialmente o uso da força e o deslocamento. Por último, a luz artificial modificou dramaticamente a regulação do ciclo circadiano, piorando o padrão de sono. Esses 3 fatores geraram um desequilíbrio que se comunica com quase todas as doenças crônicas da sociedade moderna.
O senhor compara o corpo humano a uma máquina. Como podemos fazer uma manutenção saudável nesta máquina e quais os upgrades possíveis de serem feitos para melhorar a sua performance?
A adequada conservação dessa incrível máquina chamada corpo humano depende da obediência à sua configuração básica, que contempla uma dieta natural e adequada para nossa espécie, contempla também movimento regular e estímulos ao crescimento da musculatura e, não menos importante, um sono profundo e reparador.
E qual é a avaliação que o senhor faz do número cada vez maior de pessoas que usam medicamentos para estimular o sono?
O uso de medicamentos para o sono é feito de forma indiscriminada, o que é péssimo. A maioria dos medicamentos utilizados para esse fim apenas induz o sono, mas não melhora nem garante a qualidade do mesmo. O sono sedado é menos reparador e efetivo. A regulação do ciclo circadiano é feita através de hábitos, sendo o uso de medicamentos uma segunda instância para casos selecionados.
Seguindo na analogia com a máquina, assim como as tecnologias evoluem, podemos dizer que no futuro haverá um ser humano 2.0?
O desenvolvimento de tecnologias fez com que o homem interrompesse o ciclo de pressão evolutiva que existe na natureza. A sobrevivência do mais forte deixou de ser a lei. Com isso, nos últimos 10 mil anos temos os primeiros indícios de “involução” da espécie, como, por exemplo, a redução do volume encefálico. É essa tendência que precisamos corrigir.
Quais são as dicas para mudar de um estilo de vida sedentário para outro mais saudável?
A alimentação costuma ser onde erramos mais, então é um bom lugar para se começar. Comer alimentos minimamente processados já é um passo gigantesco. Encontrar uma atividade física que nos envolva também é algo maravilhoso para a saúde. Mas vale ressaltar, mudar estilo de vida depende principalmente de aprendizado e busca de conhecimento. Precisamos nos entender, nos analisar, refletir sobre nossos comportamentos, só assim criamos um estilo de vida sustentável e blindado aos modismos e especulações das mídias sociais.