Longa gaúcho Campo Grande é o Céu tem direção de Jhonatan Gomes, Bruna Giuliatti e Sérgio Guidoux e apresenta o legado de grupos de Ternos de Reis e Santos Padroeiros de Mostardas.
Priscila Milán
Passados alguns dias da realização do 50º Festival de Cinema de Gramado, Jhonatan Gomes recorda o quão especial foi a participação no evento. Ele é um dos diretores do filme Campo Grande é o Céu, que concorreu na categoria longa-metragem gaúcho e recebeu menção honrosa na premiação. “Foi incrível! Fizemos história!”, comenta o gravataiense, que assina a direção com Bruna Giuliatti e Sérgio Guidoux. A produção apresenta o legado de grupos de Ternos de Reis e Santos Padroeiros das comunidades quilombolas Casca, Beco dos Coloidianos e Teixeiras, todas situadas em Mostardas. Jhonatan, que também é produtor cênico, foi convidado para participar do projeto em 2021, mesmo ano em que foi premiado por outro trabalho audiovisual inspirado em quilombos: Olhos de Anastácia.
Documentário
Olhos de Anastácia: Conexões Quilombolas é dirigido por Jhonatan e Vanessa Rodrigues e está disponível no YouTube (assista abaixo). Conforme o gravataiense, a ideia para a produção do documentário surgiu em 2016, quando o “boom” de artistas negros lhe abriu os olhos para questões raciais, porém os recursos para tirar esse sonho do papel foram obtidos apenas em 2020, ocasião em que o projeto foi contemplado com a Lei Aldir Blanc. O curta-metragem foi lançado no ano passado.
“O documentário dá voz a quatro mulheres, representantes das comunidades Quilombo da Anastácia e Quilombo Manoel Barbosa. Elas falam sobre suas trajetórias e as histórias de suas antepassadas, ex-escravizadas que deram seu sangue para que as futuras gerações tivessem onde morar, mesmo com todas as adversidades impostas pela sociedade da época”, explica o diretor.
As quatro protagonistas foram Adoríntia da Silva Gomes (que faleceu este mês), Berenice Gomes de Jesus, Carmen Lúcia dos Santos e Rosângela Maria Barbosa.
Inicialmente, Jhonatan pesquisou sobre o Quilombo da Anastácia e se deparou com a dissertação de mestrado da antropóloga Vera Rodrigues, o que o motivou a buscar mais informações. “Ela acompanhou todo o processo de entendimento e reconhecimento da comunidade como quilombola e de titulação das terras. Neste mesmo documento, encontrei uma citação sobre mim, em uma entrevista com meu pai, onde morávamos. Aquilo me chamou muito à atenção. Encontrei também uma passagem sobre o documentário Olhos de Hortência, criado pela APN-VG entre 2000 e 2004, e me veio a lembrança de tê-lo assistido em um evento no Quilombo. Assim, despertou o desejo de produzir o documentário e recontar a nossa história para o público”, relata.
Durante o desenvolvimento do roteiro, em parceria com Vanessa, foi descoberta a relação entre os quilombos da Anastácia e Manoel Barbosa. Os diretores decidiram, então, fazer um trabalho sobre as duas comunidades. “A tia Berenice conta que, no passado, as pessoas escravizadas que conseguiam fugir das fazendas de Viamão, seguiam pela mata fechada até encontrar o Quilombo da Anastácia, ali tinham um abrigo provisório e comida, depois eram guiados pelo Rio Gravataí até o Quilombo Manoel Barbosa”, salienta o produtor cênico. O filme já conquistou importantes reconhecimentos. Na segunda edição do Festival Cinema Negro em Ação, ganhou os prêmios Oliveira Silveira de Júri Popular e Desenho de Som.