Nesta edição nossa viagem virtual aterriza em Singapura, na Ásia. Lá vamos encontrar Alice Provenzi, que está trabalhando já há algum tempo naquela nação da Ásia, país densamente povoado, onde a língua oficial padronizada pelo governo é o inglês. Pelo que você vai conhecer sobre Singapura, não é exagero dizer que, para nossa entrevista, Singapura realmente é um país de maravilhas.
FOLHA PATRULHENSE: O que te motivou a ir para Singapura e quando foste para aí?
ALICE PROVENZI: Me mudei para Singapura em 2017, mas já tinha interesse há anos, quando conheci pessoas que visitaram o país. Foi uma realocação pela empresa onde trabalhava há 8 anos (Dell do Brasil) l, sendo os últimos 2 anos responsável por alianças estratégicas na América Latina. A movimentação para a Ásia foi uma oportunidade de aplicar o conhecimento de uma tecnologia em que era responsável pelo desenvolvimento na América Latina para outros mercados. O que me motivou foi poder juntar 3 fatores, pois sempre tive grande interesse por conhecer diferentes culturas orientais, desde questões muito ancestrais como religiões, espiritualidade, medicinas tradicionais (chinesa, ayurvedica -indiana) e culinária; a oportunidade de carreira e qualidade de vida em Singapura – um dos países mais ricos, desenvolvidos e seguros no mundo; experimentar viver “no futuro”, cosmopolita moderno e uma experiência de vida única para expandir conhecimento, relacionamentos e viajar os lugares mais exóticos e sagrados do oriente. Acho fascinante conhecer pessoas com diversas bagagens e ter uma visão mais completa do mundo.
FOLHA: Qual a atividade que desempenhas nesse país?
ALICE: Atualmente sou gerente de marketing na VMware para APJ (Ásia, Pacífico e Japão) – empresa multinacional de software parte do grupo Dell Technologies. Trabalho com pessoas na Índia, Austrália, Japão, China e Sudeste Asiático, e sou responsável por desenvolver campanhas estratégicas e relacionamento com clientes em mais de 36 países da região. Já tive projetos desde o Paquistão até Mongólia e Fiji.
FOLHA: Como tem sido a adaptação num país com cultura totalmente diferente da nossa?
ALICE: Minha adaptação em Singapura foi muito tranquila por conta da agilidade do país e a grande parte de moradores serem estrangeiros. Um país-estado-cidade com 5.6M de habitantes e mais 30% da população são expatriados com alta rotatividade, o governo facilita muito os processos burocráticos, padronizou o inglês como a língua nacional, e diversos recursos essenciais como comidas, educação e comunidades locais são bastante globalizados – tudo o que é internacional é acessível e o ambiente é multicultural. Existe um jargão que diz que Singapura é a “Asia for beginners” ou “Ásia para principiantes”, relacionando com o quão o país é cosmopolita e multiétnico, às vezes, até limitando a imersão no mundo totalmente oriental.
FOLHA: Como é o contato com os habitantes locais (acredito que todo o contato seja feito em inglês) e como é o seu povo?
ALICE: O povo Singapureano é uma sociedade unida, complacente com o governo, com as regras e prescrições de um estilo de vida menos liberal, porém, eficiente, seguro e que pensa a longo prazo. Nós, estrangeiros, também entramos rapidamente nesse código de conduta, uma vez que o país tem leis (e multas) bastante rígidas para quem sai fora da linha. Todas as pessoas locais aprendem inglês e mais uma língua, geralmente mandarim ou hindu.
O cidadão é ancorado com pilares muito sólidos: alimentação e transporte público acessível para todos (a massiva maioria não possui carro e come por menos de S$4 por refeição); e os sistemas de educação e saúde são fortes, disponíveis a todos e de alto padrão a nível mundial.
As pessoas são bastante ativas, com acesso a parques, centros de esportes comunitários e condomínios super equipados, é uma abundância de gente praticando esportes, idosos fazendo Tai Chi, crianças nas piscinas 365 dias no ano. O país é chamado de “Garden City”, os projetos de paisagismo são dos mais modernos, sustentáveis e dinâmicos do mundo. A experiência visual do país é extremamente agradável, com padrões de limpeza impecáveis e manutenções compulsórias de edifícios. Tudo está sempre novo, limpo e florido.
FOLHA: E agora o assunto do momento: pandemia. Sabes que o Brasil está numa situação bastante delicada em relação ao vírus. Como o governo agiu quando a pandemia chegou.?
ALICE: Aqui foi o primeiro lugar fora da China a receber o vírus e desde o começo o governo demonstrou um plano muito sólido de resposta. Por ter passado pelo problema semelhante com a SARS em 2003, o país adotou um plano de contingência e desde então sempre esteve preparado para uma emergência no sistema hospitalar e econômico. Minha experiência de COVID-19 em Singapura é praticamente o inverso do que se vive no Brasil. Aqui o governo sempre foi muito pragmático, com medidas ponderadas, porém, sendo rígido quando necessário. A comunicação pelas mídias é 100% alinhada com as comunicações oficiais do governo – que conta com canais como WhatsApp e aplicativos de rastreamento amplamente adotados.
Sempre houve rastreamento de todos os mais de 40 mil casos no país. Uma forca tarefa acompanha a homologação de novos casos e coloca pessoas de contato direto em quarentena. É necessário registrar – com leitura de código de barras no celular – a entrada em qualquer lugar que você frequenta fora de casa. Como mercados, restaurantes, táxis, clínicas etc. 100% dos estabelecimentos têm a obrigação de rastrear quem entra e sai. Esse modelo tem se mostrado eficiente para controlar que o vírus se espalhe na comunidade, além das medidas extras de limpeza e fechamento total das fronteiras, com quarentena de quem entrou no país nos últimos 3 meses. As escolas foram a última coisa a parar e a primeira a retomar, depois do lockdown (chamado de Circuit Breaker aqui). Educação aqui eh prioridade máxima.
Por conta de um forte número de casos associados a dormitórios compartilhados de trabalhadores operários estrangeiros que vivem em condições muito inferiores ao padrão do restante do país, o governo executou o chamado Circuit Breaker de 75 dias – parando todos os serviços não essenciais, convocando um isolamento social rigorosíssimo e injetando mais de S$100bi (R$400bi) na economia.
Todos os casos confirmados de COVID-19 são isolados em áreas de tratamento e os pacientes que necessitam hospitalização são subsidiados pelo governo. A utilização de UTIs para Coronavírus nunca passou de 10% dos leitos.
Ao contrário do Brasil, Singapura importa mais de 90% do seu consumo alimentar, e manter essa cadeia funcionando durante a Pandemia tem sido uma tarefa árdua e custosa para o governo. Felizmente as reservas monetárias são muito fortes, o que possibilitou que o país optasse pelo longo lockdown para minimizar a crise hospitalar e reestruturar a economia com mais segurança. O desafio atual está na adaptação – em uma esfera macroeconômica – da nova conjuntura de comércio internacional, que beneficia países de maior soberania alimentar e industrial; e na esfera social o ritmo do retorno as atividades diárias com medidas de distanciamento, que terão restrições até a chegada da vacina. O povo asiático é naturalmente mais complacente com as regras de distanciamento; e a rigidez das multas em Singapura salienta ainda mais a efetividade das medidas. Aqui também se percebe uma priorização de cuidado com os idosos, característico do oriente. Tanto o governo quanto a sociedade transparecem esse respeito. Todas as comunicações oficiais do Primeiro Ministro claramente demonstram a proteção do cidadão a começar pelos suportes a idosos, a geração de empregos para retomada econômica e o respaldo do governo nos setores mais afetados.
FOLHA: Como tem sido a reação da sociedade ante esse problema de saúde pública?
ALICE: A reação da sociedade ao modelo adotado até agora tem sido, em geral, bastante aderente e confiante. Há pouquíssimas “zonas cinzas” com relação a comunicação dos ministérios da saúde, economia e educação. As empresas mantêm o contato direto com os ministérios para coordenação de medidas no setor privado e o povo tem se mantido unido e focado no longo prazo, como de costume. Continuam seguindo as regras, acreditando no modelo de atuação e respeitando a conduta gradativa de retorno a vida social.
O cidadão que foi impactado diretamente com o Circuit Braker foi também o foco da atenção do governo, como os donos de pequenos restaurantes, cabelereiros, taxistas, autônomos e claro os operários que vivem nos dormitórios. Para os estrangeiros claramente a situação é menos privilegiada, e muitos ficaram bastante vulneráveis. Como eu trabalho com tecnologia tenho uma posição mais segura e com muitas oportunidades de negócio ajudando empresas a se readaptar e transformar para o mundo digital. Trabalho de casa desde fevereiro.
FOLHA: E quanto ao número de mortes?
ALICE: Sobre as estatísticas de casos e mortes, esse é o relatório enviado no WhatsApp do Governo domingo (28/06):
Casos novos: 291 Nos hospitais: 174 (1 em UTI), em instalações comunitárias (dormitórios): 5.883
Mortes: 26, alta no último domingo: 338, Casos de residentes em dormitórios: 280, dos novos casos, 97% estão vinculados a clusters conhecidos. O restante está com rastreamento de contato pendente.
Casos ativos: 6.057. Total casos: 43, 246, ou seja, 26 mortes em um total de mais 43 mil casos. Atualmente, 13% dos casos ainda ativos.
FOLHA: O que mais gostarias de acrescentar?
ALICE: Para concluir, proponho uma reflexão diante de um contexto tão diferente do que está passando no Brasil. Por mais que a realidade aqui seja o total oposto, os valores da sociedade e do bem comum são os mesmos. Uma comunidade mais unida fortalece exponencialmente o impacto do esforço individual de cada um. O benefício de cuidar do outro para assim cuidar de si prevalece e a aposta a longo prazo, por mais difícil que seja, demonstra um resultado mais positivo.
Alice Provenzi no País das Maravilhas
jul 07, 2020Tamara MadeiraOutros

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